A Depressão - Um guia terapêutico para vencer o Transtorno Depressivo
- Psicólogo Rafael Lourenço

- 1 de jan.
- 11 min de leitura
Atualizado: 19 de fev.
Esse artigo tem o objetivo de ser um guia indispensável para todos, familiares e pacientes, que sofrem com a depressão. Ele tem as informações essenciais sobre o transtorno - como sintomas, causas, diagnóstico e tratamentos - e também um guia sobre como ajudar alguém com depressão da melhor forma possível.
O que é a Depressão?

Um peso esmagador, um sofrimento sem esperança!
Sempre fui uma pessoa animada, mas nos últimos meses algo mudou. No início, sentia apenas cansaço e falta de disposição, mas com o tempo, os sentimentos de tristeza se tornaram constantes. O que antes era um pequeno incômodo se transformou em um peso esmagador. Eu não entendia o que estava acontecendo. Simplesmente não conseguia sentir prazer em nada. Levantar da cama se tornou um esforço gigante e as coisas que eu gostava de fazer não faziam mais sentido.
A depressão é uma doença psiquiátrica crônica que afeta o humor, os pensamentos, as emoções e até o corpo. Quem enfrenta a depressão experimenta uma tristeza profunda e persistente, acompanhada de desânimo, falta de interesse pelas atividades que antes eram prazerosas e uma sensação constante de vazio e desesperança.
Se você conhece alguém que está enfrentando a depressão, é natural que você se sinta confuso, impotente e, em alguns momentos, frustrado. Afinal, como ajudar quem parece ter desistido de si mesmo?
Quais são as causas da depressão?
A depressão é uma condição multifatorial, ou seja, pode ser desencadeada por diversos fatores que interagem entre si, por isso quem a tem não deve se culpar ou se responsabilizar por estar assim. Entre as principais causas da depressão podemos encontrar:
Fatores genéticos: O histórico familiar de depressão pode aumentar significativamente a predisposição para a doença.
Eventos traumáticos: Experiências como perdas, abusos, violência, separações ou estresse intenso podem funcionar como gatilhos para o transtorno.
Alterações bioquímicas: Desequilíbrios nos neurotransmissores do cérebro, como serotonina e dopamina, estão fortemente associados ao desenvolvimento da depressão.
Condições médicas: Algumas doenças crônicas, como diabetes, problemas cardiovasculares e hipotireoidismo, podem contribuir para o surgimento ou agravamento do quadro depressivo.
Uso de substâncias: O consumo excessivo de álcool, drogas ou até mesmo certos medicamentos pode desencadear ou agravar os sintomas da depressão.
Estresse crônico: A sobrecarga emocional e física pode levar ao esgotamento mental, contribuindo para o desenvolvimento da doença.
É importante ressaltar que, na maioria dos casos, a depressão não é causada por um único fator, mas sim por uma combinação de elementos que afetam a saúde mental do indivíduo. É indispensável considerar que as escolhas, decisões, arrependimentos e decepções muito fortes compõe todo sofrimento.
Sintomas da depressão
Depressão não é definida por um ou dois sintomas. Ela é uma junção de diferentes pensamentos, sentimentos, comportamentos e experiências. Psicólogos e psiquiatras possuem um sistema para avaliar e classificar esse complexo diagnóstico de sofrimento emocional.
O diagnóstico técnico dado é “transtorno depressivo maior”, que significa que a pessoa esteve deprimida – com um humor deprimido ou com perda de interesse nas atividades – por um período de duas semanas e tem, pelo menos, quatro dos seguintes sintomas:

Sentimentos persistentes de tristeza ou vazio, como se nada fizesse sentido;
Perda de interesse em atividades que antes traziam prazer, como hobbies, saídas com amigos ou momentos em família;
Cansaço excessivo e falta de energia mesmo para atividades simples do dia a dia;
Alterações no apetite (comer em excesso ou perder o interesse pela comida) e no sono (insônia ou sono excessivo);
Dificuldade de concentração e indecisão, tornando desafiador tomar pequenas e grandes decisões;
Pensamentos autocríticos, culpa excessiva e sensação de inutilidade;
Isolamento social e falta de motivação para interagir com outras pessoas;
Pensamentos recorrentes sobre morte ou suicídio, em casos mais graves.
É fundamental reconhecer esses sinais da depressão e buscar ajuda o mais cedo possível, pois a depressão pode se agravar sem o devido tratamento. Para isso, clique aqui.
Diagnóstico de depressão
O diagnóstico da depressão pode ser feito por um profissional de saúde mental, mas existem sinais que podem ajudar a pessoa a identificar se está passando por um episódio depressivo. A depressão não se manifesta da mesma forma para todos. Algumas pessoas sentem tristeza e desesperança o tempo todo, enquanto outras podem ter momentos de alívio intercalados com períodos prolongados de desânimo, e ainda há outros que pensam que não existe mais saída.

Em geral, um episódio depressivo dura pelo menos duas semanas e se caracteriza por uma sensação persistente de apatia e perda de interesse na vida. Muitas vezes, o indivíduo percebe que não consegue mais sentir prazer em coisas que antes o animavam, e isso se reflete na falta de motivação para atividades básicas, como se alimentar, trabalhar ou interagir com amigos e familiares. Se os sintomas forem constantes e interferirem no cotidiano, é um sinal de que a depressão pode estar presente.
Tratamento da Depressão
Existem várias abordagens que se propõe a tratar a depressão, no entanto as Terapias Cognitivo-Comportamentais são as mais indicadas e eficazes segundo a literatura científica, ajudando na recuperação do bem-estar emocional.
A TCC não se trata de só mais uma "terapia da semana" onde o paciente chega e conta como foi sua semana e quando o assunto acabar não tem mais motivos para continuar. Ela é uma terapia rápida e diretiva e o psicólogo especialista é ativo e não só escuta. Ele conversa e fala durante um bom tempo do encontro para ajudar a paciente a lidar com sua vida de forma diferente.
Esta terapia ajuda a aumentar o repertório de estratégias mentais e comportamentais para conduzir sua vida de forma diferente e reagir ao quadro, identificar padrões de pensamento negativos e substituí-los por pensamentos mais saudáveis e racionais. O paciente aprende e passa a usar técnicas terapêuticas no cotidiano, que melhoram o humor, a disposição, interesse a reação frente os sintomas da depressão e ansiedade, colocando em prática hábitos essenciais para o seu tratamento, tais como:
Fases do Tratamento
O tratamento com um especialista na TCC - Terapia Cognitivo-Comportamental -, é estruturado, com começo, meio e fim, o que traz resultados rápidos, principalmente pelo tratamento estar dividido em fases:

Fase 01. Avaliação e plano de tratamento (uma consulta)
Fase 02. Redução de crises e estratégias para sair do ciclo da Depressão ( 4 sessões)
Fase 03. Prevenção de novas recaídas (4 sessões)
Fase 04. Tratamento das causas psicológicas da Depressão (6-8 sessões)
Já na sessão de avaliação o paciente tem acesso a informações importantes que ajudam a aumentar sua segurança e reduzir as crises. Um grande diferencial do tratamento com as terapias cognitivo-comportamentais é que o paciente pode fazer a terapia em fases e todas têm curta duração e resultados rápidos.
Uma parte importante do tratamento, e indicada na maior parte dos casos, é realizar a modificação de pensamentos negativos (reestruturação cognitiva), ressignificar acontecimentos de vida e seu status atual e reestabelecer a esperança e vitalidade (através da ativação comportamental). Entenda esse processo aqui.
O tratamento medicamentoso, após iniciado, geralmente precisa ser mantido por períodos mais longos e descontinuado progressivamente por causa do risco de recaídas. Os medicamentos mais utilizados são: Citalopram, Escitalopram, Fluoxetina e Sertralina.
Benefícios de aprender a lidar com A Depressão x Uso de medicação
Embora terapia cognitivo-comportamental e medicamento sejam ambos efetivos para o tratamento da depressão, é importante saber que as atitudes disfuncionais se modificam mais como resultado da terapia cognitiva do que em resposta ao medicamento.
Por que é tão difícil vencer o 'Ciclo da Depressão' ?
A depressão frequentemente segue um ciclo que aprisiona e aumenta os sintomas ao longo

No início, um evento estressante ou um padrão de pensamento negativo pode desencadear sentimentos de tristeza e desesperança. A pessoa pode começar a evitar atividades que antes eram prazerosas, como sair com amigos, praticar exercícios ou se envolver em hobbies.
Essa evitação leva a uma redução no contato social e na sensação de realização, o que intensifica ainda mais os sentimentos negativos. Além disso, os pensamentos depressivos reforçam o negativismo e medos como: "eu nunca vou melhorar" ou "não sou bom o suficiente", fazendo com que a pessoa continue se afastando de experiências positivas. Essa falta de atividade e aumento do isolamento perpetuam o ciclo depressivo, tornando a recuperação mais difícil.
Identificar e quebrar esse ciclo, por meio de pequenas ações e mudanças graduais no comportamento, é um passo essencial para a recuperação. Saiba como fazer isso, aqui.
Mitos Comuns Sobre a Depressão
Existem muitos equívocos sobre a depressão que podem dificultar a busca por ajuda e perpetuar o estigma. Aqui estão alguns dos mitos mais comuns:
"Depressão é apenas tristeza" – Muitas pessoas acreditam que a depressão é apenas uma tristeza passageira, mas ela envolve um conjunto complexo de sintomas que afetam o corpo e a mente.
"Se a pessoa quiser, ela consegue sair da depressão sozinha" – A depressão não é uma escolha e não pode ser simplesmente superada com força de vontade. Ela requer tratamento adequado e suporte.
"Tomar antidepressivos é sinal de fraqueza" – Medicamentos podem ser uma parte essencial do tratamento da depressão, ajudando a equilibrar substâncias químicas no cérebro.
"Só pessoas com problemas graves de vida ficam deprimidas" – A depressão pode afetar qualquer pessoa, independentemente da situação financeira, status social ou experiências de vida.
"Se alguém parece feliz, não pode estar deprimido" – Muitas pessoas mascaram seus sintomas e continuam sorrindo, enquanto internamente enfrentam um grande sofrimento.
Como Ajudar Alguém com Depressão: Um Guia Prático para Familiares e Amigos
Conviver com alguém que enfrenta a depressão pode ser uma experiência desafiadora e repleta de dúvidas. Como ajudar sem pressionar? O que dizer para incentivar a melhora? O que evitar para não piorar o quadro?
Se você tem um ente querido com depressão, pode já ter passado por situações como:

Sentir-se perdido: Não saber se deve incentivar a pessoa a agir ou respeitar o espaço dela.
Medo de piorar a situação: Evitar certos assuntos por receio de desencadear uma reação negativa.
Frustração com a falta de resposta: Dizer palavras de incentivo e perceber que a pessoa deprimida continua sem reação.
Cansaço e impotência: Ver que os esforços para ajudar parecem não surtir efeito.
Dúvidas constantes: "Devo insistir para que ela saia de casa?", "Preciso cobrar que procure ajuda?", "O que faço se recusar qualquer tipo de ajuda?"
Esses são sentimentos legítimos, mas agir sem orientação pode resultar em posturas que pioram o quadro. A forma como você lida com a situação pode ser decisiva para que a pessoa deprimida aceite ajuda ou se isole ainda mais. Busque sempre orientação profissional sobre as melhores formas de ajudar nesses casos.
Como Funciona a Mente de Alguém com Depressão?
A depressão altera profundamente a maneira como a pessoa pensa e enxerga a vida. Muitas vezes, os familiares tentam aplicar uma lógica racional para motivar o ente querido, sem entender que a mente de alguém deprimido funciona de forma diferente.
Pessoas com depressão podem ter pensamentos como:
“Nada dá certo para mim." - A pessoa parece não desfrutar de nada; acha que seu exercício é uma perda de tempo, que suas férias foram um desperdício de dinheiro e que seus relacionamentos são maçantes e exigentes.
“Eu não consigo fazer nada direito." - Quando assume essa visão negativa de si mesmo, tudo o que faz lhe parece um fracasso ou um “fiasco”. Mesmo quando alguém tenta mostrar os aspectos positivos, os descarta como irrelevantes: “Isso não é nada demais – qualquer um pode fazer isso”.
“Eu não tenho energia para nada.” - Seu corpo passa a sentir falta de energia para as coisas mais simples. Tudo parece uma missão impossível. O desânimo toma conta das suas células e da sua mente. E ela se vê incapaz de se movimentar e incapaz de reagir.
“As pessoas só dizem para eu me esforçar, mas não sabem como é difícil.” - Ela escuta isso direto, mas no fundo acredita que será inútil e que tentar só vai fazê-la perder tempo e comprovará o quanto é fracassado e sem recurso.
Se você já ouviu respostas assim, sabe o quanto pode ser desanimador tentar ajudar. Mas existem estratégias específicas para incentivar alguém com depressão de forma eficaz, e essas estratégias precisam ser aprendidas para ajudar efetivamente. Clique aqui para saber como as melhores estratégias para ajudar.
Como Você Pode Ajudar Alguém com Depressão?

Seja compreensivo: Não minimize o sofrimento com frases como "é só uma fase" ou "tente pensar positivo".
Esteja presente: Mesmo que a pessoa não queira conversar, sua presença silenciosa é valiosa.
Evite cobranças: Pressionar para "reagir" pode aumentar o sentimento de culpa.
Incentive o tratamento: As Terapias Cognitivo-Comportamentais são as mais eficazes e podem fazer toda a diferença na recuperação.
Ajude a manter a rotina: Pequenas atividades diárias fazem parte do processo de melhora.
Se informe sobre a doença: Conhecimento é essencial para oferecer o melhor suporte.
Cuide de si mesmo: Ajudar alguém com depressão pode ser desgastante. Não negligencie seu bem-estar.
Para que você tenha um acompanhamento especializado sobre como ajudar, o que fazer e quais estratégias colocar em prática para realmente auxiliar na melhora de um ente querido com depressão, clique aqui.
O Peso de Cuidar de Alguém com Depressão
Se você tem um ente querido com depressão, talvez já tenha vivido situações como estas:
Sensação de estar falando com uma parede: Você tenta encorajá-lo a sair da cama, a tomar um banho, a se alimentar melhor, mas nada parece fazer diferença.
Exaustão mental e emocional: Você se sente sugado, pois dedica sua energia a tentar "levantar" a outra pessoa, mas sem retorno.
Raiva e frustração: Em alguns momentos, você pode até se irritar com a apatia do depressivo e se culpar por pensar assim.
Culpa: A sensação de que poderia estar fazendo mais, que deveria encontrar uma solução milagrosa.
Medo constante: De que a depressão piore, de que a pessoa tome atitudes extremas, de que você falhe como suporte.
Esses sentimentos são normais, mas ignorá-los pode levar a um esgotamento emocional sério. Por isso, buscar suporte para si mesmo enquanto ajuda a pessoa é tão fundamental quanto incentivar a pessoa deprimida a buscar ajuda.
A Importância de Aprender a Ajudar de Forma Correta

Muitos familiares acreditam que, se forem pacientes e oferecerem palavras de incentivo, a pessoa deprimida eventualmente se sentirá melhor. Mas a realidade é que a depressão não desaparece apenas com apoio emocional – é preciso um processo estruturado de ajuda.
É por isso que a orientação de um profissional especializado é tão essencial. Para isso, existe uma opção eficiente e geralmente acessível: o grupo de apoio. Nas modalidades presencial e on-line, familiares e amigos de pessoas com diagnóstico de depressão encontram um lugar para entender melhor a doença, conhecer as formas de ajudar e as melhores estratégias para colocar em prática no manejo com o depressivo. Faça parte de um grupo de apoio para familiares on-line aqui.
Em um grupo de apoio para familiares, você aprende:
Estratégias para identificar os momentos certos de intervenção.
Técnicas de comunicação que realmente funcionam.
Como conversar de maneira que a pessoa deprimida realmente se sinta compreendida.
O que evitar dizer para não piorar o quadro.
Estratégias eficazes para incentivar a busca por tratamento.
Como incentivar pequenas mudanças no dia a dia do depressivo
Quais comportamentos podem contribuir para a melhora do seu ente querido.
Como lidar com momentos de crise e isolamento.
Como oferecer suporte sem se desgastar excessivamente
Dentre as poucas opções que existem atualmente para realmente apoiar os familiares e amigos que lidam diretamente com uma pessoa com esse quadro, essa é uma das melhores alternativas (e uma das mais acessíveis), além da orientação individual com um especialista. Conheça como funciona o grupo de apoio.
Quais os benefícios de um Grupo de Apoio?
Ao buscar essa orientação, você não apenas aliviará o peso de não saber como agir, mas também terá ferramentas reais para ajudar o seu ente querido de maneira eficaz.

Você aprenderá a:
Falar de forma que a pessoa deprimida se sinta acolhida, não pressionada.
Criar um ambiente propício para que ela aceite ajuda profissional.
Manter-se emocionalmente estável enquanto apoia a pessoa que ama.
O maior erro que um familiar pode cometer é tentar lidar com a depressão de um ente querido sem o devido conhecimento. O apoio emocional, por mais bem-intencionado que seja, pode não ser suficiente se não for baseado em estratégias comprovadas.
Participar de um grupo de apoio com um profissional qualificado pode ser o fator determinante entre ajudar alguém a encontrar um caminho para a melhora ou, sem querer, reforçar o ciclo da depressão.
Se você quer realmente ajudar, comece aprendendo como ajudar da forma certa. A depressão não precisa ser um labirinto sem saída – existe um caminho, e ele começa com conhecimento e orientação profissional.

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