Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)
- Psicólogo Rafael Lourenço

- 18 de mar.
- 8 min de leitura
Atualizado: 19 de mar.
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) é uma condição de ansiedade crônica caracterizada por obsessões e compulsões que interferem significativamente na vida da pessoa. Esse artigo já ajudou muitas pessoas que estavam sofrendo, sejam portadores do transtorno obsessivo compulsivo (TOC) quanto seus familiares.
Nesse artigo você irá perceber que você não está sozinho e que não precisa se envergonhar. Você terá informação suficiente para compreender melhor esse problema com sua saúde e, acima de tudo, que é possível obter alívio do seu sofrimento por meio de tratamento.
O que é o TOC?

O desastre invisível que nunca acontece.
Sempre me considerei uma pessoa cuidadosa, atenta aos detalhes. Mas, com o tempo, pequenas preocupações começaram a tomar conta da minha rotina. Antes de dormir, sentia a necessidade de checar portas e janelas repetidamente, mesmo sabendo que já estavam trancadas.
No trabalho, revisava cada e-mail inúmeras vezes, temendo que uma palavra errada pudesse causar algum problema. O que antes parecia apenas um hábito de precaução começou a drenar meu tempo e minha energia. Eu me sentia exausto, como se estivesse sempre tentando evitar um erro, um desastre invisível que nunca acontecia. Eu não percebia que era minha própria mente que me mantinha preso nesse ciclo. E mesmo eu agindo ainda era consumido por angústia e medo de que aconteçam desgraças.
TOC: o "problema oculto"
Na maioria das vezes, pacientes e familiares fazem um "pacto de silêncio" por medo, vergonha, culpa, desconhecimento ou falta de esperança. Assim, muitas pessoas ficam sem diagnóstico e sem tratamento, prolongando o sofrimento e prejuízos pessoais, acadêmicos e profissionais na vida do portador.
Amigos e familiares ficam perdidos e sem saber como ajudar e, mais do que isso, se acostumam com o sofrimento e sintomas da pessoa e, assim, contribuem para a piora do quadro.
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) é uma condição de ansiedade crônica caracterizada por obsessões e compulsões que interferem significativamente na vida da pessoa. As obsessões são pensamentos, ideias ou imagens que surgem repetidamente de maneira intrusiva, causando medo, angústia ou desconforto. As compulsões, por outro lado, são comportamentos repetitivos ou rituais que a pessoa sente necessidade de realizar para tentar aliviar essa ansiedade.
Esse transtorno pode surgir na infância ou adolescência, porém muitas vezes só é diagnosticado na vida adulta. Aqueles que buscam ajuda, em geral o fazem muitos anos após o início dos sintomas, tendo perdido muito tempo de suas vidas fazendo rituais ou tentando, sem sucesso, afastar pensamentos e impulsos indesejáveis e até repugnantes que os atormentam.
O TOC é altamente incapacitante e compromete a qualidade de vida, a carreira profissional e os relacionamentos interpessoais. A mente da pessoa é atormentada pela repetição de pensamentos indesejados, que acabam por afetar suas emoções, seu comportamento, tomando muitas horas do seu dia, tempo esse que poderia ser usado com atividades produtivas, lazer ou convívio com outras pessoas.
Quais são as causas do TOC?
A origem do TOC ainda não é completamente compreendida, mas diversos fatores podem estar envolvidos no seu desenvolvimento. Algumas das principais hipóteses incluem:
Alterações no cérebro: Estudos sugerem que o TOC pode estar relacionado a disfunções na comunicação entre certas áreas do cérebro, especialmente aquelas que regulam o comportamento repetitivo e a resposta ao medo.
Fatores genéticos: Pessoas com histórico familiar de TOC têm maior propensão a desenvolver o transtorno.
Fatores psicológicos: Experiências traumáticas ou níveis elevados de estresse podem contribuir para o surgimento dos sintomas.
Desequilíbrio químico: Acredita-se que uma produção inadequada de serotonina possa estar envolvida no desenvolvimento do TOC.
Apesar das causas do TOC não serem totalmente claras é possível afirmar que houve um considerável progresso no desenvolvimento do tratamento, técnicas e psicoterapias para que haja melhora duradoura nos sintomas e na qualidade de vida dos pacientes.
Sintomas do TOC:
O TOC se manifesta principalmente por meio de obsessões e compulsões, que variam em intensidade e comprometem a rotina do indivíduo.

Obsessões são pensamentos ruins, indesejados e principalmente repetitivos. Ninguém tem controle total do que pensa, e as vezes nos surpreendemos com ideias "malucas" ou bobas que podem nos assustar ou envergonhar. A maioria das pessoas "desencanam" desses pensamentos .
Ninguém pensa em coisas desagradáveis "porque quer", esses pensamentos chegam sem pedir licença, são intrusos. E justamente quando a pessoa se esforça para acabar com esses pensamentos ou se convencer do contrário, eles se tornam mais intrusivos, obsessões.
Quais são os conteúdos mais comuns das Obsessões?

Obsessões de contaminação ou sujeira: preocupação excessiva com limpeza e contaminação (por exemplo, medo de tocar em superfícies sujas ou germes).
"Fico desesperada quando encosto sem querer em alguém na rua, já acho que talvez a pessoa esteja doente e que posso ter pegado AIDS."
"Quando estou fazendo almoço, às vezes fico encanada" que posso estar com alguma doença e passar para toda minha família."
"Quando vejo um copo sujo na pia, sinto uma agonia tão grande que não passa até eu lavar, enxugar e guardar, mesmo sendo tarde ou eu estando exausta".
Dúvidas Obsessivas: Dúvidas persistentes sobre segurança (como verificar repetidamente se portas e janelas estão trancadas ou se o fogão foi desligado).
"Ontem foi muito difícil sair de casa, primeiro eu voltei para checar o gás, depois voltei para verificar as janelas, depois pensei que a torneira tinha ficado ligada. Demorei 40 minutos para sair realmente de casa."
Obsessões de agressão ou violência: Pensamentos agressivos ou imagens intrusivas de violência, morte ou acidentes.
"Quando vejo um bebezinho, tenho impulsos horríveis: parece que uma força interna me manda fazer alguma coisa ruim contra a criança, por isso evito até chegar perto apesar de eu adorar crianças"
"Quando minha filha viaja, eu chego a ver na minha cabeça a imagem do carro dela acidentado, é horrível"
"Muitas vezes escondo as facas da cozinha para eu não pensar coisa ruim".
Obsessões de responsabilidade: Medo de cometer erros que possam causar tragédias.
"Eu sei que parece bobo demais, mas se eu não lavar o cabelo várias e várias vezes algo de ruim vai acontecer com alguém da minha família."
Necessidade de simetria e exatidão (como sentir desconforto se objetos não estiverem perfeitamente alinhados).
"Tenho que alinhar minhas roupas senão meus avós irão morrer".
"Fico transtornado com coisas fora do lugar e tortas".
Pensamentos proibidos ou tabus (por exemplo, obsessões religiosas ou sexuais).
Compulsões Comuns:
Lavar as mãos repetidamente, mesmo sem necessidade.
Tomar banhos excessivamente longos.
Verificar trancas e eletrodomésticos dezenas de vezes.
Contar mentalmente ou em voz alta um determinado número de vezes.
Reorganizar objetos constantemente para garantir simetria.
Acumular itens sem necessidade.
Repetir palavras ou frases mentalmente como forma de neutralizar um pensamento indesejado.
A pessoa com TOC sente um alívio temporário ao realizar essas compulsões, mas os pensamentos obsessivos logo retornam, criando um ciclo de ansiedade e repetição.
Diagnóstico de TOC
O diagnóstico do TOC é feito por um profissional de saúde mental, como um psicólogo ou psiquiatra, com base nos sintomas relatados pelo paciente. Alguns critérios incluem:

A presença de obsessões e/ou compulsões que causam sofrimento significativo.
Impacto negativo na rotina diária, trabalho ou relações interpessoais.
O reconhecimento, por parte do paciente, de que seus pensamentos e comportamentos são excessivos, embora ele sinta dificuldade em controlá-los.
Para um diagnóstico mais preciso, podem ser usados questionários específicos e registros de comportamento, além de avaliações psiquiátricas detalhadas.
Tratamento do TOC
Embora o TOC não tenha cura, existem tratamentos eficazes que ajudam a reduzir significativamente seus sintomas. As principais abordagens incluem:
1. Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
A TCC é considerada o tratamento mais eficaz para o TOC. Uma das técnicas mais utilizadas é a exposição com prevenção de resposta, na qual a pessoa é gradualmente exposta às suas obsessões sem realizar a compulsão correspondente. Com o tempo, o nível de ansiedade reduz e a necessidade de rituais diminui. Comece seu tratamento aqui.
2. Medicamentos
Em alguns casos, o uso de antidepressivos específicos, como inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS) e a clomipramina, pode ser indicado. A combinação de TCC com medicação costuma apresentar os melhores resultados, especialmente nos casos mais graves.
3. Terapias Complementares
Outras abordagens podem auxiliar no alívio dos sintomas:
Mindfulness e meditação: Técnicas de atenção plena ajudam a reduzir a ansiedade associada ao TOC.
Exercícios físicos regulares: Atividades como caminhadas e ioga ajudam na regulação emocional e na produção de serotonina.
Terapia de suporte para familiares: O envolvimento da família no processo terapêutico pode contribuir significativamente para o sucesso do tratamento.
Fases do Tratamento
O tratamento com um especialista na TCC - Terapia Cognitivo-Comportamental -, é estruturado, com começo, meio e fim, o que traz resultados rápidos, principalmente pelo tratamento estar dividido em fases:

Fase 01. Avaliação e plano de tratamento (uma consulta)
Fase 02. Redução de crises e estratégias para sair do ciclo da TOC ( 4 sessões)
Fase 03. Prevenção de novas recaídas (4 sessões)
Fase 04. Tratamento das causas psicológicas do TOC (6-8 sessões)
Já na sessão de avaliação o paciente tem acesso a informações importantes que ajudam a aumentar sua segurança e reduzir as crises. Um grande diferencial do tratamento com as terapias cognitivo-comportamentais é que o paciente pode fazer a terapia em fases e todas têm curta duração e resultados rápidos.
Uma parte importante do tratamento, e indicada na maior parte dos casos, é realizar a modificação de pensamentos negativos (reestruturação cognitiva), ressignificar acontecimentos de vida e seu status atual e reestabelecer a esperança e vitalidade (através da ativação comportamental). Entenda esse processo aqui.
O tratamento medicamentoso, após iniciado, geralmente precisa ser mantido por períodos mais longos e descontinuado progressivamente por causa do risco de recaídas. Os medicamentos mais utilizados são: Citalopram, Escitalopram, Fluoxetina e Sertralina.
Benefícios de aprender a lidar com o TOC x Uso de medicação
Embora terapia cognitivo-comportamental e medicamento sejam ambos efetivos para o tratamento do transtorno obsessivo compulsivo, é importante saber que as atitudes disfuncionais se modificam mais como resultado da terapia cognitiva do que em resposta ao medicamento.
Mitos Comuns Sobre o TOC

Existem diversos equívocos sobre o TOC que podem dificultar a compreensão da condição. Alguns mitos comuns incluem:
"Todo mundo tem um pouco de TOC." - Embora muitas pessoas tenham hábitos organizacionais ou repitam algumas ações, o TOC é uma condição psiquiátrica grave e debilitante, que interfere drasticamente na vida do indivíduo.
"Quem tem TOC gosta de ser perfeccionista." - Nem todas as pessoas com TOC são perfeccionistas. Muitas vezes, elas sentem grande sofrimento ao realizar seus rituais compulsivos.
"O TOC é apenas uma mania." - Diferente de simples hábitos, os rituais do TOC são motivados por intensa ansiedade e medo irracional, tornando-se extremamente difíceis de controlar.
Como Lidar com o TOC
Para melhorar a qualidade de vida de quem tem TOC, algumas estratégias podem ser adotadas:
Buscar ajuda profissional o quanto antes. - Quanto mais cedo o tratamento for iniciado, melhores serão os resultados.
Evitar reforçar os rituais. - Familiares e amigos devem incentivar a pessoa a enfrentar suas obsessões sem ceder às compulsões.
Manter uma rotina estruturada. - Atividades programadas ajudam a reduzir a ansiedade e a evitar gatilhos do TOC.
Praticar exercícios físicos e técnicas de relaxamento. - Isso pode ajudar no controle da ansiedade e da impulsividade.
O TOC é um transtorno desafiador, mas com o tratamento adequado e o apoio certo, é possível controlar os sintomas e recuperar a qualidade de vida. Se você ou alguém próximo enfrenta esse problema, não hesite em buscar ajuda especializada.

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