A Sindrome de Burnout
- Psicólogo Rafael Lourenço

- 1 de fev.
- 7 min de leitura
Atualizado: 27 de fev.
A Síndrome de Burnout, também conhecida como esgotamento psicológico, é um distúrbio psíquico causado pelo estresse crônico.
O que é síndrome do burnout?

A exaustão sem fim
Carlos sempre foi apaixonado pelo seu trabalho. Apesar disso, vivia uma pressão crescente, metas inatingíveis e uma sobrecarga de tarefas que o desgastavam. No início, ele ignorou os sinais de alerta, acreditando que era apenas uma fase difícil. Noites mal dormidas, mente acelerada e o cansaço constante faziam parte de sua rotina. Mesmo exausto, ele se forçou a continuar.
Com o tempo, a falta de concentração levou a erros frequentes, sua paciência se esgotou e o prazer que sentia pelo trabalho desapareceu. Ele se afastou física e psicologicamente dos amigos e da família, sentindo-se cada vez mais apático. O ápice começou a acontecer durante uma reunião, quando sua mente simplesmente desligou — ele não conseguiu lembrar de informações básicas do projeto que gerenciava. Depois disso se viu tomando remédios para dormir, para controlar a ansiedade e para ter atenção. Sua capacidade de lidar com a própria vida parecia ter sido perdida.
A Síndrome de Burnout é uma condição psicológica decorrente da exposição prolongada ao estresse. Diferente de um simples cansaço após um dia exaustivo, o burnout é um estado persistente de exaustão física, mental e emocional que traz sofrimento, prejuízos e impede o indivíduo de ter qualidade de vida.
Muitas pessoas afetadas descrevem a sensação como estar "funcionando no piloto automático", ou "sobrevivendo e não vivendo", sem entusiasmo ou energia para realizar tarefas que antes eram satisfatórias.
Essa condição afeta profissionais de diversas áreas, mas é especialmente comum em carreiras que exigem alto envolvimento emocional, como saúde, educação, empreendedorismo e segurança pública. Professores, por exemplo, enfrentam pressões constantes de alunos, pais e diretores, além de carga horária excessiva, o que leva a exaustão. Empreendedores precisam "matar um leão por dia" para manter seus negócios. Profissionais de saúde lidam diariamente com situações de estresse extremo, como emergências médicas e decisões de vida ou morte, tornando-os mais suscetíveis ao burnout.
A psicologia do Burnout?
Todo e qualquer ser humano tem duas tendências básicas:
1) Se afastar daquilo que faz mal.
Se um colega de trabalho gera muito mal estar com seu jeito e condutas, nossa tendência natural é nos afastarmos. O problema é quando precisamos do trabalho e não podemos trocar de emprego no momento que nos encontramos.
Se estamos enfrentando dificuldades com nossos filhos e não podemos simplesmente nos afastarmos deles o Burnout entra em cena.
Sempre que nos vemos em um conflito pessoal ou dilema que parece impossível de ser solucionado no momento uma fonte importante de estresse é criada e ficamos vulneráveis a desenvolver o quadro.
Mas o contrário também é verdadeiro.
2) Se aproximar daquilo que faz bem.
Aprendemos a desejar e sonhar com situações melhores para nossa vida. Mas quando, por mais que pensamos ou nos esforçamos, não conseguimos aquilo que é importante para nós. Uma nova fonte de estresse começa a atuar e o Burnout entra novamente em cena.
Você luta para ser feliz no casamento e não consegue.
Se esforça para ser uma mãe melhor e não consegue.
Você trabalha e dá o sangue para ter mais dinheiro mas parece não ser o suficiente.
Você tenta melhorar sua saúde, se alimentar melhor, fazer exercícios, cuidar de você mas não consegue.
Não conseguir viver tudo aquilo que gostaria, gera fontes importantes de estresse e nos coloca no quadro de Burnout.
Algumas causas do Burnout?
O Burnout pode ser causado por uma combinação de fatores, incluindo:

Carga excessiva de trabalho: quando um indivíduo é constantemente sobrecarregado com tarefas e responsabilidades, a pressão pode se tornar insustentável. Um exemplo comum é o de profissionais que acumulam funções devido à falta de mão de obra ou orçamentos reduzidos, o que pode levar à exaustão.
Falta de autonomia: muitas pessoas sentem que não têm controle sobre sua vida e seu trabalho, sendo constantemente supervisionadas ou impedidas de tomar decisões importantes. Isso gera um sentimento de impotência e contribui para o desgaste emocional.
Ambiente tóxico: locais onde há constantes conflitos interpessoais, assédio moral ou competição exagerada podem ser altamente prejudiciais. Uma mulher que se relacionada com alguém controlador e invalidante desenvolve o quadro. Um profissional que trabalha sob chefia abusiva ou com colegas hostis tem mais chances de desenvolver Burnout.
Desalinhamento de valores: trabalhar em uma empresa cujos valores não condizem com os seus pode gerar desmotivação e estresse constante. Por exemplo, um profissional da área de saúde que deseja proporcionar um atendimento humanizado pode se sentir frustrado em um ambiente hospitalar que prioriza apenas o lucro.
Falta de reconhecimento: não ter reconhecimento, não receber feedback positivo ou sentir que seus esforços são ignorados pode levar à desmotivação e ao esgotamento.
Cada um desses itens devem ser trabalhados para que seja possível reduzir o nível de estresse de exaustão. Você pode trabalhar esses pontos aqui.
Sintomas do Burnout
Os sintomas do Burnout afetam tanto o aspecto físico quanto emocional e mental e entre os mais comuns estão:

Sintomas emocionais e cognitivos:
Sensação de negatividade e desesperança: pessoas com Burnout muitas vezes acreditam que sua situação não tem solução, desenvolvendo uma visão pessimista sobre o futuro.
Falta de motivação: mesmo atividades antes prazerosas se tornam desinteressantes. Um profissional que costumava se engajar em projetos pode perder o entusiasmo e apenas "cumprir tabela".
Dificuldade de concentração e lapsos de memória: problemas com organização e produtividade são comuns. Muitas pessoas relatam que esquecem compromissos importantes ou cometem erros frequentes.
Alterações de humor: pode surgir irritabilidade extrema, crises de ansiedade e comportamento agressivo.
Sintomas físicos:
Cansaço extremo e falta de energia: muitos relatam a sensação de estar fisicamente esgotado, mesmo após uma noite de sono.
Insônia e alterações no sono: dificuldades para dormir ou um sono não reparador são comuns.
Dores musculares, dor de cabeça e enxaqueca: a tensão acumulada pode se manifestar fisicamente.
Sintomas comportamentais:
Distanciamento das relações pessoais: amigos e familiares podem notar que a pessoa está menos sociável ou mais irritada do que o normal.
Procrastinação, atrasos e faltas no trabalho: a desmotivação pode levar ao absenteísmo frequente.
Burnout e Ansiedade: Como Estão Relacionados?
A pressão excessiva e o estresse crônico podem desencadear crises de ansiedade, caracterizadas por preocupação constante, tensão muscular e dificuldade para relaxar. Pacientes com Burnout relatam que começaram sentindo uma ansiedade leve, que com o tempo evoluiu para um estado de exaustão completa. Quando não tratado, o Burnout pode levar a transtornos mentais e depressão.
Diagnóstico de Burnout
O diagnóstico de Burnout precisa ser realizado por um psicólogo especializado.
Os principais métodos incluem:
Avaliação clínica por um profissional de saúde mental.
Avaliação do nível de estresse, e predomínio de sintomas físicos ou psicológicos.
Avaliação de estratégias de enfrentamento do paciente.
Observação do impacto dos sintomas na vida pessoal e profissional.

Também é fundamental realizar um diagnóstico diferencial, distinguindo o quadro de outras condições que apresentam sintomas semelhantes, como ansiedade e depressão. Por isso, é necessário procurar um psicólogo especializado para descartar outras possibilidades e facilitar a aceitação do diagnóstico e o seu tratamento.
Tratamento do Burnout
Existem duas fontes importantes de stress que todas as pessoas vivenciam: as fontes internas e as fontes externas. Para uma pessoa vivenciar o Burnout ela necessariamente está “sendo atacada” tanto pelas fontes externas de stress, quanto as internas.
Apesar das fontes externas, como ambiente, carga e colegas de trabalho, serem muito impactantes, as fontes internas, como ansiedade, habilidades de regulação emocional e resolução de problemas, quando diminuídas tornam difícil o manejo da situação e suas resoluções.
Assim, o peso excessivo das situações vivenciadas geram impacto e prejuízos na vida da pessoa e ela se vê paralisada e sem energia para lidar com as dificuldades.
O tratamento do burnout envolve lidar com o externo e interno e, para isso, é indicado a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), já que ela:

Ajuda a realizar mudanças no ambiente de trabalho: Rever expectativas, escolhas e decisões.
Resolver problemas pendentes: sejam no trabalho, família, filhos ou em outras áreas da vida.
Mudar a forma de encarar o mundo: identificando padrões de pensamento que aumentam o estresse e a ansiedade.
Desenvolver estratégias de enfrentamento com as situações que aumentam o desgaste.
Decidir sobre medicação: Antidepressivos ou ansiolíticos podem ser prescritos em casos graves.
Conseguir aumentar os Autocuidados: a terapia ajuda o paciente a fazer coisas que ele já conhece a importância mas não consegue colocar em prática como exercícios físicos, ter tempo para descansar, melhorar a qualidade do sono, se alimentar melhor e emagrecer.
O não tratamento dessa condição pode levar ao adoecimento físico, mental e incapacitação.
Mitos sobre a Síndrome de Burnout:
"Burnout é apenas cansaço" – Não, é um distúrbio psíquico que exige intervenção.
"Apenas quem trabalha muito sofre de burnout" – O problema não é a quantidade de trabalho, mas a falta de suporte emocional e autonomia.
"Basta tirar férias para se curar do burnout" – Férias podem ajudar, mas não tratam a causa do problema.
Como evitar o Burnout
Definir limites claros entre trabalho e vida pessoal.
Aprender a dizer "não" para demandas excessivas.
Praticar atividades físicas regularmente.
Ter espaços de lazer e descanso adequados.
Buscar apoio emocional de amigos, família ou terapeutas.
Exercícios para prevenir e aliviar o Burnout
Meditação e mindfulness para reduzir o estresse.
Exercícios de respiração para acalmar o sistema nervoso.
Exercício físico regular, como caminhada ou yoga.
Técnicas de organização do tempo para evitar sobrecarga.
Como aliviar os sintomas do Burnout
Se você já apresenta sintomas de Burnout, algumas estratégias podem ajudar:
Conversar com um terapeuta para suporte profissional.
Mudar hábitos de trabalho para diminuir a pressão.
Criar uma rotina de autocuidado e bem-estar.
Fazer pausas regulares durante o expediente.
Erros comuns sobre o Burnout
Ignorar os sintomas iniciais, achando que é apenas "fase ruim".
Continuar trabalhando no mesmo ritmo, mesmo com sinais de exaustão.
Buscar apenas soluções rápidas, sem tratar a raiz do problema.
Evitar procurar ajuda profissional por medo de julgamentos.


Gostei do modo como explicou a síndrome, não subestimando os efeitos negativos que ela pode trazer para o individuo mas também expondo formas de intervenção de maneira clara e didática. Compreender sobre o burnout na atualidade é utilidade pública!! não é incomum encontrar pessoas extremamente stressadas, desmotivas, angustiadas e sem expectativa devido ao ambiente que expõe o trabalhador a situações degradantes e insalubres de trabalho. Arrisco dizer que é uma das sindromes mais sorrateiras, já que vai sugando o trabalhador aos poucos e devido a lógica capitalista as pessoas se constrangem e muitas vezes se recusam a aceitar o diagnóstico, o que dificulta ainda mais a identificação e o tratamento do Burnout.